segunda-feira, 21 de abril de 2008

De Militares no Poder até a Internet

A “Coluna do Castello”, que o Jornal do Brasil começou a publicar em 1963, foi leitura obrigatória de todos os que acompanhavam com atenção os assuntos políticos do país ou que deles eram protagonistas. O próprio jornal carioca afirmou que a coluna chegou mesmo a substituir a vida política nacional, em momentos durante os quais as instituições estiveram sufocadas, no regime ditatorial pós-1964. Foi um período em que se tinha de ler com toda a atenção não só as linhas, mas também as entrelinhas do discurso de Castello.

Reunidas pela primeira vez em 1977, em três volumes lançados pela Nova Fronteira, as colunas de Castelinho ganharam uma reedição no final do ano passado. Publicado em um único volume, Os Militares no Poder mostra um recorte temporal de um momento nebuloso, até então pouco explorado e pouco conhecido de fato deste período, que vai do golpe que depôs o presidente João Goulart à edição do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968.

O livro revela o papel que desempenharam as principais lideranças políticas e militares do país no processo de endurecimento do regime. Ao lado da Coleção Ditadura, do também jornalista Elio Gaspari, Militares no Poder é a obra mais precisa e realista sobre a conturbada época que assolou a liberdade brasileira, alem de ser uma das crônicas mais densas daqueles escuros anos.

E quando mais a sociedade precisou de informações e o Regime amendrotava a imprensa, Castellinho, como era conhecido por suas intermináveis fontes e amigos, afirmou-se.

Previu o AI-5 dez dias antes em sua coluna e detalhou seu desenvolvimento até o dia do decreto, em 13 de dezembro de 1968. Foi o único jornalista a exercer tal função, sem medo da censura governista. Entretanto, não conseguiu evitá-la. Os militares conheciam sua inteligência e seu papel diante da sociedade.

Na noite do decreto, ele e sua mulher comemoravam o 20º. aniversário de casamento. Ao ouvir o discurso pela televisão, já previu o pior e chamou a esposa: “Vai olhando tudo aí que eu vou dormir. Estou muito cansado e vou ser preso amanhã cedo”. Em seu texto já pronto para a edição do dia seguinte, lia-se: “Ao ato institucional de ontem não deverá seguir-se nenhum outro ato institucional. Ele é completo e não deixou de fora, aparentemente, nada em matéria de previsão de poderes discricionários expressos”.

Logo pela manhã, a polícia foi até sua casa e o prendeu. Passou cinco dias no cárcere. Mesmo assim, não deixou de ser respeitado até mesmo pelos oficiais responsáveis pela ação. “Fui bem tratado e sempre tive regalias”, afirmou Castello em entrevista exclusiva em 1992, um ano antes de sua morte, ao jornalista Carlos Chagas.

Os anos de chumbo, marcados pela forte censura da imprensa, não fizeram com que Carlos Castello Branco desistisse de sua maior alegria: escrever sua coluna diária. Nem mesmo a Ditadura Militar o privou disso. Castellinho continuo seu trabalho de jornalista dedicado à causa da democracia e da liberdade de expressão.

As recompensas vieram mais tarde. Foi eleito, em 1976, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, cargo que exerceu até 1981. Em 24 de outubro de 1978, foi homenageado nos Estados Unidos com o prêmio Maria Moors Cabot, pela Universidade de Columbia, Nova York, destinado aos jornalistas notáveis das Américas. Recebeu também o Prêmio Mergenthaler, de liberdade de imprensa, além dos prêmios Nereu Ramos de jornalismo, dado pela Universidade de Santa Catarina, e Almirante, na área de comunicação.

Atualmente, o acervo de obras de Carlos Castello Branco foi disponibilizado na Internet por sua família no site www.carloscastellobranco.com.br. Além das colunas entre 1964 e 1968 contidas na obra Os Militares no Poder, pode-se ter acesso àquelas até 1993. Um grande presente para estudantes e historiadores do período mais conturbado e escondido da história nacional. Melhor ainda através do trabalho daquele que foi um dos melhores jornalistas políticos do Brasil.

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