sexta-feira, 25 de abril de 2008

68 macacos

Fantástico! Digitei "68 monkeys" no google e adivinhem só... Existe uma empresa com esse nome. Sérião. Juro. É uma coisa bizarra, para promover artistas do norte da Califórnia (EUA) e alinhados com a causa ambiental... mas -- quem se importa?

Aliás, falando em quem se importa...


Come torta!

68 destinos


O protesto de literalmente milhares. Foto de Evandro Teixeira

No dia 26 de junho de 1968, os cariocas assistiram a uma das maiores manifestações públicas em sua cidade. Aliás, não apenas assistiram, mas também participaram. Milhares de pessoas estiveram na "Passeata dos Cem Mil". O Rio de Janeiro deixara de ser o mesmo desde a morte do estudante Edson Luís, em março daquele ano. Os episódios seguintes de repressão foram cada vez mais violentos, culminando naquela que foi chamada de "sexta-feira sangrenta", em que a cidade presenciou uma guerra civil em praça pública -- por mais que a construção soe batida, é o que relatam os que assistiram a tudo isso, como Zuenir Ventura em seu livro 1968 - O ano que não terminou, citado no post abaixo.

A Passeata dos Cem Mil foi a resposta da população, que compareceu às ruas para demonstrar seu descontentamento. E não apenas a população: líderes estudantis, mães chocadas com a idéia de que seus filhos poderiam ser o próximo Edson Luís, padres, engenheiros, advogados, artistas, jornalistas. A idéia da Passeata foi de Ferreira Gullar e narrada por Zuenir. Não tentarei recriar essa história porque Zuenir já fez isso, e muito bem, em seu livro. O importante é saber que foi a articulação de poucas pessoas que garantiu a segurança de milhares, que puderam sair para protestar sem medo de serem presas.

Tudo isso para dizer que o fotojornalista Evandro Teixeira, que já havia registrado diversas cenas daquele ano, também estava trabalhando no dia da Passeata dos Cem Mil. E fez o retrato emblemático desse dia. Da foto, surgiu a idéia para o livro que já foi lançado no Rio de Janeiro, e será lançado em São Paulo até o final do mês. 68 destinos pretende contar a história de 68 pessoas naquela foto -- o que aconteceu com elas nesses quarenta anos que se seguiram.

Em razão do lançamento, Evandro foi entrevistado no Programa do Jô. Para os que não conhecem a foto ou querem saber onde estavam naquele dia personalidades como Paulo Autran, Clarice Lispector, Antonio Callado, Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Othon Bastos, vale a pena assistir o vídeo abaixo:


quinta-feira, 24 de abril de 2008

Onde tudo começou...

É meus amigos...este blog obviamente foi motivado pelo fato de que em 2008 se completam 40 anos do tão comentado 1968. Mas por que tão comentado? Aqui no Brasil, por causa do livro 1968: o Ano Que não Terminou, de Zuenir Ventura.

Depois de amanhã, dia 26/04, a Editora Planeta vai lançar um box chamado 1968 Terminou?, que trará, entre outras coisas, além do livro originalmente publicado em 1987, entrevistas com FHC, Fernando Gabeira e José Dirceu e o livro 1968: O Que Fizemos de Nós. A caixa no site americanas.com custa R$59,90 . Um preço justo pela qualidade do produto.

Para Carlos Fuentes, autor já citado aqui no blog, 1968 foi "um desses anos-constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço".

Para Zuenir, o ano de 68 teve uma particularidade ainda não repetida nestes 40 anos que já passaram. "Acho que foi a primeira manifestação da globalização antes mesmo de a globalização existir. É um mistério na história, ninguém conseguiu responder até hoje como começou, por que começou naquele ano". Portanto, quem viveu viu, quem não viveu pode (re)ler.

Nas bancas

A edição deste mês de abril da revista História Viva tem como matéria especial um dossiê sobre a ano de 1968.

Destaque para as rebelião toma as ruas do planeta, Maio francês, Primavera de Praga e a conjuntura sobre o desenvolvimento do movimento negro norte-americano.

No Brasil, a resistência estudantil diante da Ditadura Militar recebe um tratamento especial. A passeata dos 100 mil, naquele 26 de junho, é tema base desse artigo. Vale a pena conferir, principalmente para aqueles que não tem muito conhecimento sobre o tema.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Roberto Piva: 1968, uma coisa de elite

Roberto Piva era um grande poeta aos 22 anos. Paulista, odeia São Paulo, mas descreve a cidade como ninguém. “Detesto São Paulo. Não moro num sítio porque não tenho dinheiro”. A acidez do poeta, que estava sempre expressa em seus poemas, ainda é muito presente. Entretanto, o peso das opiniões contrasta com a postura tranqüila de quem parece um avô. Ligado ao Xamanismo
Piva fez parte de um grupo muito especial da literatura brasileira. Viu uma série de transformações e falou de tudo isso dentro da poesia marginal. Durante a ditadura militar, era um jovem ativo, crítico, mas sem lugar. “Ficamos isolados entre a direita e a esquerda”, diz. 40 anos depois, o poeta fala de do ano 1968, das manifestações e A.I. 5. E afirma: nossa esquerda era fascista e limitada.

Pensando em 68 hoje, como você vê aqueles acontecimentos aqui e na França?
Maio de 68 na França foi bem diferente daqui. Lá eles se rebelaram contra a esquerda tradicional também – eram contra todo mundo. E aqui foi atrelado ao movimento de esquerda.
Aqui não teve essa consciência cósmica, grandiosa, universal, globalizada como aquilo que acontecia na França. Aqui, as manifestações foram atreladas ao modelo cubando desse assassino que é o Fidel Castro, como uma espécie de karma - não conseguíamos sair desse paradigma de esquerda estalinista. Aqui, tivemos um movimento de esquerda fascista, fascistas vermelhos, extremamente limitados. E que acabou não decolando, não levantava vôo. Não foi uma coisa de massa.
De qualquer forma, 68 abriu um processo de reavaliação de partido comunista, de tudo isso. Pasolini tinha razão quando disse que quando os estudantes enfrentam a polícia, o povo é polícia. Concordo totalmente com ele. Maio de 68 na França foi uma revolução contra a sociedade. Não estive lá, mas tinha informação de amigos conheciam o país, e muito pelos jornais, apesar da censura que existia.

Mas não foi um movimento importante para o país?
Teve importância para jornalista, pessoas de esquerda, mas não foi universal. Aquela coisa “o povo unido jamais será vencido”, um paradigma limitado. No Brasil, não tivemos uma consciência cósmica, ecológica, ou que abrangesse outros aspectos da vida.

Quando começaram as manifestações vocês já sentiam que aquilo seria tão importante historicamente?
Não sei, não sou um “sessenteioteiro”. Acho que 68 é uma merda. Houve o condicionamento ao Fidel Castro, Viva Cuba, e as pessoas que fizeram parte daquilo estão aí até hoje. O Zé Dirceu, por exemplo: hoje está roubando, mas antes estava falando. Agora já partiu das palavras para a ação e a ação deles é enfiar dólar na cueca.
Mas foi um movimento relevante. Era revolta contra o sistema militar que não dava certo, era obtuso. Mas a esquerda não deixava por menos também a obtusidade.

Como você participou dessas manifestações?
Fizemos passeatas, participamos o tempo todo, e alguns da minha turma foram presos. Sempre alguém avisava quando ia ter passeata, algumas até a imprensa difundia. A maior delas foi a passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, quando mataram um estudante.
Mas no fundo 68 foi um engodo, uma coisa de elite. Os filhos mimados da mídia. As participação do Cláudio Willer, minha e de outras pessoas foi diferente, não compactuávamos com nenhum dos lados, ficamos isolados entre a direita e a esquerda.

Os protestos tinham a intenção de promover uma mudança de comportamentos. Essa mudança ocorreu?
Essa mudança foi mais na França, aqui era tabu na esquerda. porque a esquerda sempre foi fechada. Há um poema aqui [terceiro livro com a obra reunida de Piva], que representa bem 1968, em que digo que as pessoas aqui no Brasil entram em partidos políticos para servir de capacho, enquanto na Europa, entram para esculhambar*

Como teria sido o tipo de manifestação ideal aqui no Brasil?
Como sou anarco-monárquico, acho que o exército devia parar no 7 de setembro, pedir desculpa para a família real e empossá-la de novo no poder. Acho isso porque sou monarquista. Como anarquista, gostaria que tivesse muita manifestação contra o estado. Ninguém tocava no estado, queriam que trocassem o estado dos militares pelo estado de Fidel Castro, que é militarizado, criminoso - leva as pessoas ao paredão. E esse homem está a quarenta anos no poder e não sai mais. A múmia dele vai ficar lá.

68 também foi o ano do A.I. 5. Como você reagiu ao Ato?
Senti muito pelo ambiente fechado que se criou, pela falta de liberdade. Os militares ficavam num filme de faroeste com aqueles que criticavam a ditadura, solta bomba aqui, solta ali... Não havia mais espaço de verdade.
Éramos muito unidos, porque debaixo da ditadura, havia um espaço conquistado pela liberdade individual de cada um.

Você ficou sem escrever por muito tempo. Por quê?
Preferi viver.

Intelectual brasileiro entra
em partido político pra lavar chão.
pra ser Devoto. Pasolini entrou em
partido político pra criticar,
pra esculhambar.
os poetas deixaram de ser bruxos
pra serem broxas.
fantasmas-eunucos deste teatro
de Sombras que é a
sociedade Industrial,
bibelôs de consumo devidamente
etiquetados & vacinados
contra a Raiva.
a nossa viagem xamânica começa
agora:
para as praias desertas & florestas
do mundo, rumo ao centro da Terra
cidade lúcida & quente.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

De Militares no Poder até a Internet

A “Coluna do Castello”, que o Jornal do Brasil começou a publicar em 1963, foi leitura obrigatória de todos os que acompanhavam com atenção os assuntos políticos do país ou que deles eram protagonistas. O próprio jornal carioca afirmou que a coluna chegou mesmo a substituir a vida política nacional, em momentos durante os quais as instituições estiveram sufocadas, no regime ditatorial pós-1964. Foi um período em que se tinha de ler com toda a atenção não só as linhas, mas também as entrelinhas do discurso de Castello.

Reunidas pela primeira vez em 1977, em três volumes lançados pela Nova Fronteira, as colunas de Castelinho ganharam uma reedição no final do ano passado. Publicado em um único volume, Os Militares no Poder mostra um recorte temporal de um momento nebuloso, até então pouco explorado e pouco conhecido de fato deste período, que vai do golpe que depôs o presidente João Goulart à edição do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968.

O livro revela o papel que desempenharam as principais lideranças políticas e militares do país no processo de endurecimento do regime. Ao lado da Coleção Ditadura, do também jornalista Elio Gaspari, Militares no Poder é a obra mais precisa e realista sobre a conturbada época que assolou a liberdade brasileira, alem de ser uma das crônicas mais densas daqueles escuros anos.

E quando mais a sociedade precisou de informações e o Regime amendrotava a imprensa, Castellinho, como era conhecido por suas intermináveis fontes e amigos, afirmou-se.

Previu o AI-5 dez dias antes em sua coluna e detalhou seu desenvolvimento até o dia do decreto, em 13 de dezembro de 1968. Foi o único jornalista a exercer tal função, sem medo da censura governista. Entretanto, não conseguiu evitá-la. Os militares conheciam sua inteligência e seu papel diante da sociedade.

Na noite do decreto, ele e sua mulher comemoravam o 20º. aniversário de casamento. Ao ouvir o discurso pela televisão, já previu o pior e chamou a esposa: “Vai olhando tudo aí que eu vou dormir. Estou muito cansado e vou ser preso amanhã cedo”. Em seu texto já pronto para a edição do dia seguinte, lia-se: “Ao ato institucional de ontem não deverá seguir-se nenhum outro ato institucional. Ele é completo e não deixou de fora, aparentemente, nada em matéria de previsão de poderes discricionários expressos”.

Logo pela manhã, a polícia foi até sua casa e o prendeu. Passou cinco dias no cárcere. Mesmo assim, não deixou de ser respeitado até mesmo pelos oficiais responsáveis pela ação. “Fui bem tratado e sempre tive regalias”, afirmou Castello em entrevista exclusiva em 1992, um ano antes de sua morte, ao jornalista Carlos Chagas.

Os anos de chumbo, marcados pela forte censura da imprensa, não fizeram com que Carlos Castello Branco desistisse de sua maior alegria: escrever sua coluna diária. Nem mesmo a Ditadura Militar o privou disso. Castellinho continuo seu trabalho de jornalista dedicado à causa da democracia e da liberdade de expressão.

As recompensas vieram mais tarde. Foi eleito, em 1976, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, cargo que exerceu até 1981. Em 24 de outubro de 1978, foi homenageado nos Estados Unidos com o prêmio Maria Moors Cabot, pela Universidade de Columbia, Nova York, destinado aos jornalistas notáveis das Américas. Recebeu também o Prêmio Mergenthaler, de liberdade de imprensa, além dos prêmios Nereu Ramos de jornalismo, dado pela Universidade de Santa Catarina, e Almirante, na área de comunicação.

Atualmente, o acervo de obras de Carlos Castello Branco foi disponibilizado na Internet por sua família no site www.carloscastellobranco.com.br. Além das colunas entre 1964 e 1968 contidas na obra Os Militares no Poder, pode-se ter acesso àquelas até 1993. Um grande presente para estudantes e historiadores do período mais conturbado e escondido da história nacional. Melhor ainda através do trabalho daquele que foi um dos melhores jornalistas políticos do Brasil.

Macaco de Israel

"Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se não me lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria."
O macaco tinha se esquecido da cidade sagrada, mas não conseguia olvidar aquele salmo. Olhava para as duas mãos peludas com uma sensação curiosa de medo, mas não de culpa. Havia abandonado a capital sagrada para engajar-se nas lutas de Paris, para enfiar-se nas trincheiras profanas da pólis da luz. "Meu filho, essa batalha nada tem a ver contigo, um macaco de Israel". "Querida mãe, a estrela de David brilha na Europa tão forte quanto brilha na Judéia; deixa-me ir, e prometo que volto". A macaca velha deixara -- as recentes conquistas da Guerra dos Seis dias tinham derretido o coração dela. E cá estava ele, nas margens do Sena afugentando pombos. Chegara tarde demais, os rebeldes já tinham sido reprimidos. Não encontrava em lugar algum os olhos brilhantes dos revoltosos. "Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém", murmurava com tom irônico, "que se resseque o meu coração, a minha alma e todo o mais, menos a minha mão, para que nela eu ainda possa usar meus anéis faustosos". Tinha se tornado um filósofo, de repente, embaixo das nuvens francesas, descansando na sombra de Notre Dame, a senhora dos cristãos. Mas sabia -- os melhores filósofos são os árabes. Seu melhor amigo, macaco companheiro de uma infância gostosa passada no Neguev, era hoje um dos sufistas mais notáveis de Teerã (seu pai tinha sido um leal servidor do império Otomano, porém, e detestava os mitos abássidas e os sussurros a respeito de Imanes Ocultos). O islamismo permitia algumas loucuras a que o cristianismo e o judaísmo já tinham se tornado imunes, percebia. Mas o racionalismo francês não era imune a nada, e tinha levado o império carolíngio àquela situação tenebrosa -- jovens trancafiados em casa enquanto os gorilas de De Gaulle marchavam livres nas ruas reurbanizadas. Não que na terra de David a coisa estivesse menos enegrecida. O gás lacrimogêneo dos judeus, na terra sagrada de Jerusalém, era a própria atmosfera, e nas pedras desgastadas do último muro (dádiva do Imperador Adriano!, que tinha poupado ao menos aquele pedaço de relíquia, maldito seja o romano) as lágrimas de gerações se misturavam há seculos. Um casal passou por ele carregando duas malas de mão -- explosivos? Seria possível que a resistência ainda estivesse articulada? Bobagem. O mundo já tinha voltado seus olhos para a crise da França, a luta, para os seculares, já tinha sido ganha. Era assim que se fazia, nos países modernos. Um macaco de Israel, aquela batalha nada tinha a ver consigo mesmo. Sua mãe não estava enganada. E a estrela de David não brilhava ali tão forte quanto na Judéia -- ela mal brilhava. Aquela Europa agressiva, que expulsara os judeus no século XV, aquele continente ingrato. "Se eu não me lembrar de ti, tu não te lembrarás de mim também", concluiu, sorrindo. Levantou-se, mergulhou no Sena e nadou contra a corrente até a nascente oculta do rio. Percorreu os lençóis freáticos misteriosos, conheceu a origem da água do mundo e, quando voltou à superfície, já estava no Mediterrâneo. Glória ao nome desconhecido! Embarcou, sem ser visto, em um barco pesqueiro no Adriático. Navegou clandestinamente até a Anatólia, onde parentes distantes o receberam e o encaminharam a Israel montado em um camelo, como um rei vitorioso. Chegou a tempo das celebrações em homenagem ao aniversário de um ano da guerra de expansão -- vitória de Israel. Já não se via árabe nenhum sorrindo nas ruas. Golã, Sinai, Jordânia. Quando entrou em casa, sua mãe o abraçou como já não esperasse vê-lo com vida. "Convertestes os francos?", perguntou-lhe? "Não, minha mãe, não converti ninguém. Mas descobri que sou apaixonado por Jerusalém e jamais me esqueci da cidade sagrada. Minhas mãos não se ressecarão, porque não há nenhuma alegria que eu prefira à ela", disse. Sorriram, os dois com lágrimas nos olhos. Rezaram 68 vezes pela glória de David e dos nomes desconhecidos de deus.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Novo Mundo


A primavera já se encontrava no seu fim. O ano tinha dado quatro passos e agora estava perto de terminar de dar o quinto – estávamos em meados de maio de 1968, e Paris já se mostrava cansada de ver as cores das flores que, em março, tinham vindo como uma novidade aos nossos olhos acostumados ao branco frio do inverno.


Na rua Gay-Lussac, a juventude se reunia para conchavar. Como se fosse um código só nosso, sussurrávamos os nomes estrangeiros que idolatrávamos – bastava que alguém descrevesse a selva esverdeada de Che, o porto amarelado de Fidel ou as plantações de arroz esbranquiçadas de Mao, e todos os corações batiam velozes, em uníssono. Ainda que poucos de nós soubessem, de fato, o que aquelas letras a tantos quilômetros de distância, nos tais países do terceiro mundo, podiam significar.


Éramos uma multidão de estudantes escondidos atrás das barricadas feitas de blocos de pedras, vigas de aço e tapumes roubados do canteiro de obras da junção com a rua Ursulines. Éramos diversos revoltados, desgostosos, estávamos em greve e nossos olhos ardiam, porque o vento fraco da manhã ainda não tinha conseguido varrer do ar todo o gás lacrimogêneo das últimas batalhas. Gritávamos que o poder público era covarde. O poder público e o partido socialista também – pensávamos que os comunistas nos apoiariam, já que tínhamos conosco a classe popular, mas, em vez de encorajamento, líamos no L’Humanité o Partido nos apelidando de “agitadores” (e qual era o problema de se agitar um pouco as coisas naquela França quase bourbônica – religiosa, patriótica, autoritária –?).


Ah!, se fôssemos escrever a nossa história nos anais da França certamente nos descreveríamos como um raio de luz iluminando não só o Quartier Latin dos turistas, mas também as periferias escurecidas pelo descaso de que gozavam os negros da Argélia, que tinham vindo a nós como se vai a um deus salvador. Diríamos de nós mesmos que éramos uma brisa fresca soprando alucinada, um peixe colorido nadando no acinzentado Sena. Não tínhamos dúvida – estávamos vivendo um daqueles anos inesquecíveis da história da humanidade a que para sempre as gerações futuras se refeririam. E gostávamos dessa sensação de podermos pertencer tão gloriosamente ao porvir.


Mas toda essa glória só vivemos antes do endurecimento da repressão. Logo os soldados do então presidente De Gaulle surgiram nas ruas como macacos ensandecidos, como gorilas alucinados, e de nada adiantava combatê-los – as pedras que atirávamos neles voltavam a nós três vezes mais fortes, como num contrafeitiço. Tínhamos ideais de sobra, mas faltava força aos nossos braços. Sem o apoio do Partido, voltamos, aos poucos, para nossas casas. Nossas mães cuidaram das feridas que trazíamos no corpo como troféus e, por mais que nos chamassem de loucos, ainda assim deixavam que víssemos nos seus olhos o brilho de um orgulho maternal.


A revolução acabou tão repentinamente quanto tinha começado. Mas a morte nem sempre marca o final de uma história, e logo percebemos que, apesar de termos sido derrotados, tínhamos feito tremerem as bases da França e de toda uma geração. Os livros no mundo inteiro, em países que nem sabíamos que existiam, agora falavam de nós como se fôssemos heróis. Talvez tenhamos mudado o mundo – gostamos de pensar que sim. E o novo mundo vinha a nós maravilhoso, repleto de valores de igualdade, plenitude sexual e respeito aos direitos humanos.
Sorríamos.

domingo, 13 de abril de 2008

Fuentes periodísticas

Se você leitor tem mais de 50 anos, então façamos um exercício de memória: onde estava e o que fazia no ano de 1968?

Eu não era nascido, e não tenho a menor idéia sobre você, mas Carlos Fuentes se lembra direitinho, e escreve sobre si mesmo na terceira pessoa em seu site oficial:

"Vive en Londres y París. Aprovecha los recursos del British Museum para iniciar la redacción de Terra Nostra. Colabora con François Reichenbach en el film México, México. Es un año crucial. Está presente en la fase final de la rebelión estudiantil parisina y publica París: La revolución de mayo. Protesta contra la invasión soviética de Checoslovaquia y viaja a Praga con Julio Cortázar y Gabriel García Márquez para apoyar a los escritores y artistas independientes de ese país. Los recibe Milan Kundera. La masacre de estudiantes ordenada por el presidente Gustavo Díaz Ordaz el 2 de octubre en Tlatelolco a fin de celebrar un Olimpiada pacífica le hiere profundamente y decide regresar a México."

O ano de 1968 foi definitivamente agitado. Três grandes acontecimentos se tornaram páginas importantes dos livros de história. Os meses de abril em Praga, de maio em Paris e de outubro no México são contados no calor do momento, através de artigos inalterados da época, pelos vinte anos de idade do escritor mexicano Carlos Fuentes em seu livro Em 68: Paris, Praga e México, da editora Rocco, lançado aqui no Brasil há cerca de duas semanas.

Admirador de Franklin Roosevelt e de sua capacidade de resolver conflitos através de meios democráticos, Carlos Fuentes é um diplomata de berço. Exerceu a função política apenas duas vezes, mas seu pai foi embaixador do México em diversos paises, oferecendo a oportunidade para o ainda jovem Carlos Fuentes conhecer outras realidades.

Nos textos, o autor não somente narra fatos a partir da perspectiva histórica, mas deixa transparecer sua opinião sobre os acontecimentos que narra praticamente “ao vivo”. Em especial sobre o ocorrido no México, país onde Fuentes criou uma identidade muito grande e uma proximidade com a política, e cunhou a metáfora “derrotas pírricas”. Explica-se: uma “vitória pírrica” significa que uma batalha foi vencida a muito custo, mas não necessariamente a guerra. Já uma “derrota pírrica”, é quando uma batalha é perdida, mas seus ideais perduram, constituindo uma vitória acima de uma derrota.

Explica-se novamente: para Fuentes, o massacre dos cerca de 400 estudantes no México em 1968 pelo regime ditatorial não foi em vão, pois o fato serviu de estopim para o fortalecimento dos partidos socialistas ocidentais e para o estabelecimento da democracia mexicana. Carlos Fuentes acredita, no fim das contas, que há males que vem para o bem.

Para um fã declarado dos presidentes democratas norte-americanos, escrever sobre massacres totalitaristas é uma proposta no mínimo sedutora, ainda mais no esplendor de sua juventude. Entretanto, participar destes episódios, ao lado de personalidades internacionais, como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Júlio Cortázar e o tcheco Milan Kundera agrega ainda mais valor documental para seus textos.

O segredo do livro, certamente está nas fontes utilizadas. Além de o próprio Fuentes ter presenciado os episódios de Paris e de Tlatelolco, ele tem a ajuda de seus notáveis colegas, já citados anteriormente, no relato dos massacres. É a clara evidência de um trabalho jornalístico, considerando que o poder e a credibilidade das fontes elevam o valor simbólico de uma reportagem. Não é um texto imparcial, mas sim muito opinativo. Prova de que latinidade e sangue de barata não combinam.

O livro foi originalmente lançado em 2005 na Espanha, mas sua chegada recente ao Brasil vem mesmo a calhar, considerando que em menos de um mês, se completarão quarenta anos da data original de quando os ensaios foram produzidos. Carlos Fuentes Macías nasceu em 1928 na Cidade do Panamá, mas se considera mexicano. Escreveu mais de 20 livros e é considerado um dos maiores novelistas do mundo latino, sempre ligado à política ou a temas políticos. Vencedor de diversos prêmios internacionais como o “Miguel de Cervantes”, em 1987 e o “Príncipe das Astúrias”, em 1994, é professor titular em Harvard em Cambridge.

Vale a pena conferir seu livro, que tem tradução de Ebréia de Castro Alves e foi lançado pela editora Rocco (tel. 0/xx/ 21/ 3525-2000), com 160 páginas e o preço de R$ 25.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A Coluna virtual do Castello

"O AI-5 foi feito à noite e havia uma reunião lá em casa, amigos. Ao ouvir o Ato lido pelo Gama e Silva nas televisões e nas rádios, percebi que a coisa estava mal parada. Chamei minha mulher: “Vai olhando tudo aí que eu vou dormir. Estou muito cansado e vou ser preso amanhã cedo”."
Carlos Castello Branco, jornalista nascido no Piauí, foi um dos maiores jornalistas políticos de toda história brasileira. Passou pela Tribuna da Imprensa, Diário Carioca, Diarios Associados, mas ficou conhecido mesmo no Jornal do Brasil.

Com a diária "Coluna do Castelo", analisou de maneira fina, atenta e objetiva o dia-a-dia dos tempos nebulosos da Ditadura Militar. Foi um observador privilegiado em razão de seu dotes pessoais - não utilizava gravadores e conseguia transcrever como ninguém uma entrevista - e de suas valiosas fontes de informação.

Prestigiado entre políticos e jornalistas, foi preso um dia após o decreto do AI-5. Já esperava a censura, mas nunca a temia. Nos cinco dias de cárcere, foi bem tratado por oficiais, que chegaram até a lhe oferecer banquetes na prisão.

A obra Os Militares no Poder, contendo suas colunas de 1964 a 1968, foi um tremendo sucesso na edição de 77, com três volumes. Ano passado, a obra foi reeditada em um único volume pela editora Nova Fronteira.

Agora, a família de Castello disponibilizou um rico acervo de colunas do jornalista político de 1963 até 1993, além da biografia e imagens dele. Vale a pena conferir.

O banco de Roberto Piva


Quarta-feira, 09.04. Como a maioria das pessoas que fazem este blog, estava me descabelando para conseguir terminar o trabalho de Jornalismo Cultural. O meu problema era maior, já que só faria a entrevista para minha pauta um dia antes da entrega, a noite.

Minha pauta é uma entrevista com Roberto Piva, ícone da poesia marginal dos anos 60. Para falar do ano de 68, nada melhor do que quem estava lá e participou.
Tinha combinado na última semana de fazer a entrevista por telefone, ontem no fim da tarde. A primeira impressão ao telefone foi ameaçadora, por isso resolvi não forçar uma entrevista pessoalmente.

Ontem, por volta das 14h10, liguei para ele para confirmar a entrevista a noite (fiquei com medo que ele tivesse esquecido). O senhor que me atendeu foi muito simpático, e achei que poderia tentar conversar pessoalmente.
- Ok. Estou indo andar um pouco na praça Buenos Aires, na Angélica. Agora são 14h20, né? Te encontro lá 15h10. Estarei no alto da praça, ao lado da estátua da mãe.

Tchau para o trabalho. Saio correndo numa avenida que não tem taxis e chego atrasada, obviamente.

Piva me espera sentado, com um livro na mão. Aquele que chama São Paulo de inútil, fala de orgias e chama Fidel de assassino parece um senhor comum. Mas não é.

- Vamos nos sentar no meu banco. Ele é energizado.
- Como assim?
- Você não sabe que há pontos mais energizados do que outros? A física explica. A energia daquele banco é melhor no outros.

Infelizmente tinha gente ocupando o banco. Voltamos para a companhia da mãe.

***
esqueleto da lua
o tempo
tambor tão frágil
vomitando a noite
***

A entrevista completa com Roberto Piva será publicada em breve.

terça-feira, 8 de abril de 2008

As bicicletas brancas de Amsterdam

Em dias de congestionamento. Não. Não posso começar o texto assim, porque todo dia é dia de congestionamento e toda hora é hora. Então continuo: quando sentimos o trânsito na pele, pensamos nos lugares do mundo em que as condições para o ato ou efeito de se transportar parecem ser menos caóticas.

Eis que, dentro do carro, ao buzinar mais uma vez e aumentar o volume de "My bike", do Queen, surge: "Por que a Holanda é conhecida como o país das bicicletas?" Há respostas que apenas livros podem oferecer de forma satisfatória ao curioso.

Um futuro post nesse 68letras apresentará uma resenha de Provos: Amsterdam e o nascimento da contracultura, de Matteo Guarnaccia. O livro saiu no Brasil pela Conrad em 2001 e não faltam motivos para resgatá-lo.

E enquanto a resenha não aparece por aqui para explicar quais são os tais motivos, adianto ao leitor: na Holanda, o costume de ir de um lado para o outro sobre duas rodas não motorizadas está relacionado ao Plano da bicicleta branca e esse é um dos assuntos do livro.

Se, naturalmente, a curiosidade fez surgir as perguntas "O que são Provos?", "O que é esse tal plano da bicicleta branca?", "O que essa pessoa quer dizer com essas coisas?" ou "O que isso tem a ver com 1968?", assistir ao vídeo abaixo como um pedaço do texto que virá é uma boa opção a curto prazo.

A premissa é: na década de 1960, jovens anarquistas pintaram bicicletas de branco e as espalharam pelo centro de Amsterdam para uso livre. Quem precisasse se locomover pegava a bicicleta e depois liberava para outra pessoa. Uma forma de protestar contra os carros? Eles previam o caos no trânsito?

Por enquanto, quem fala é o inventor Luud Schimmelpenninck, sem legendas.


O amor de Zuenir

No final dessa semana, os leitores do blog conhecerão mais sobre Hélio Pellegrino e sua importância no ano de 1968, tanto ao Rio de Janeiro, quanto ao Brasil.

Enquanto isso, hoje conto de uma prova de amor de Zuenir Ventura. Hélio, como os leitores descobrirão, despertava um amor imenso e sincero em muitas figuras hoje mais conhecidas do que ele (infelizmente). Um bom exemplo é Nelson Rodrigues, que almoçava em sua casa todos os sábados, durante anos. Ruy Castro, seu biógrafo, afirma que Otto Lara Resende era o amigo que Nelson mais admirava e Hélio, o que ele mais amava.

Zuenir Ventura e Hélio se conheciam de vista, mas se tornaram realmente amigos quando estiveram presos durante alguns meses, entre o final de dezembro de 1968 e março de 69. Apesar de ser uma situação inusitada para o começo de uma amizade, foi o contato diário -- eles dividiam cela -- que os tornou tão próximos (literalmente falando).

Nos agradecimentos de 1968: O ano que não terminou, Zuenir conta que o livro não tem prefácio porque seria escrito por Hélio, a pessoa que mais o estimulou a realizar o projeto. Pouco antes de morrer, Hélio lembraria de que nos tempos em que estiveram na cadeia, Zuenir havia o presenteado com Cem anos de solidão com uma dedicatória que ele repetiria para 1968:


"A Hélio,
um homem aberto com quem eu me fecho"


Acho que a dedicatória já demonstra por si só o amor de Zuenir.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Literatura Marginal

Lá para o finalzinho da tarde de hoje, encontrei o seguinte comentário sobre o Tropicalismo no livro "Estilos de Época na Literatura", de Domício Proença Filho. Leiam:

Reassumindo e incorporando a proposta antropofágica de Oswald de Andrade, ou seja, propondo-se a "deglutinação cultural", o Tropicalismo relativizou, como assinala Celso F. Favaretto, as posições antagônicas da época na realidade brasileira, quando se oscilava "entre a ênfase nas raízes nacionais e na importação cultural". Nesse sentido, caracterizou-se por uma dupla dimensão dialética e pretendeu ser, ao mesmo tempo, brasileiro e universal, sem qualquer preconceito estético, "apenas vivendo a tropicalidade". Esse propósito amplo, e de certa maneira vago, converteu-se numa ampla atitude de carnavalização, no sentido bakhtiano do termo. A esse traço, aliam-se, ainda como retomada da "antropofagia", pesquisa de técnicas de expressão, humor, atitude anárquica em relação aos valores da burguesia, a que não faltam o sarcasmo, o deboche, a ironia, o espirito de paródia, o cosmopolitismo estilístico. Representou também "uma apropriação da pop-art e da op-art americanas e das vanguardas brasileiras" e é tido por alguns críticos como manifestação da "estética do precário". Os anos 70 assinalam o declínio da atitude.

Meu comentário sobre o trecho destacado? Desculpe Sr. Domício, mas eu discordo totalmente da última frase. Como os anos 70 não foram expressivos, se foi a partir desta época que a chamada Poesia Marginal veio à tona, provando que litetura não precisava de editora, censor ou quaisquer outras aprovações burocráticas para ser publicada? Na época, escritores e artistas que se identificavam com o título "marginal", driblavam a ditadura, reuniam seus poemas e romances e os publicavam em fanzines, jornais alternativos, panfletos. Não concordo com o termo "carnavalização" também. O que era manifestação, então?

Exemplo vivo de que a atitude estava presente na juventude contemporânea de 1968, dez anos mais tarde, três jovens negros cansaram de tanta repressão e organizaram o que ainda hoje é considerado símbolo de resistência do movimento negro, os "Cadernos Negros".

Embora o lançamento dos Cadernos só tenha ocorrido em 1978, oito poetas negros uniram seus trabalhos, tornando-se vanguardas ao driblar a recriminação que havia no período ditatorial com relação à arte afro-descendente. Mais provas e informações:

http://bayo.sites.uol.com.br/historico_cadernos_negros.htm

ou

http://www.quilombhoje.com.br/

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Kyoto


Em 1968, o prêmio Nobel de literatura foi entregue ao japonês Yasunari Kawabata. Abaixo, o trecho inicial de um de seus livros, "Kyoto":


Chieko descobriu que as violetas floresceram no tronco do velho bordo.

Ah! Elas haviam florido naquele ano de novo, pensou ela diante da suavidade da primavera. O bordo era realmente grande para o pequeno jardim no meio da cidade, seu tronco mais corpulento que os quadris dela. Muito embora a superfície velha e áspera do tronco, coberta de musgo, não pudesse ser comparada a seu corpo jovem e delicado...

Na altura do quadril de Chieko, o tronco ligeiramente retorcido da árvore dobrava-se à direita, logo acima da cabeça dela. A partir dessa dobra, numerosos galhos se estendiam em todas as direções e dominavam o jardim. As extremidades dos longos ramos pendiam um pouco devido ao próprio peso.

Logo abaixo da dobra parecia haver duas pequenas cavidades, e em cada uma delas cresciam violetas que floriam a cada primavera. Pelo que se lembrava Chieko, aqueles dois pés de violeta sempre estiveram ali.

Trinta centímetros separavam as violetas de cima das de baixo. Chieko, que chegava à plenitude da mocidade, às vezes perguntava a si mesma se elas se encontrariam algum dia. Será que se conheciam?, pensava ela.

O que significaria, entretanto, "encontrar-se" e "conhecer-se" para as violetas? Floriam três, quando muito cinco, a cada primavera, não mais que isso. Apesar de tudo brotavam e desabrochavam todo ano naquelas pequenas cavidades da árvore. Chieko contemplava-as da varanda, ou junto ao bordo, e, por vezes, sentia-se comovida pela "vida" das violetas sobre a árvore, ou se sensibilizava com a "solidão" delas.


So site da Estação Veja é possível ler mais sobre o escritor, além de outros trechos de outros livros.

Uma delícia.

 
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